terça-feira, março 06, 2007

Stay with me

Stay with me

A story in two languages
Uma história a duas línguas
I
Abria a porta como todos os dias pelo fim da tarde. A casa, apesar de ser pequena, era demasiado grande. Quando fechava a porta, ouvia ao fundo o eco perturbador da sua batida. Todos os dias quando a abria aquele ruído ecoava dentro de mim. Dava comigo como no fundo de um poço com uma réstia ténue de água salubre onde todos os movimentos ecoavam em círculos de espiral de fora para dentro até ao fundo das minhas entranhas.
Pousava o casaco, quando o trazia, ou simplesmente dirigia os meus acelerados passos até ao escritório ao fundo do hall. Sentava-me e apressadamente ligava o pc. Tinha aquela curiosidade de abrir o e-mail como quem abre um presente, ou melhor, como quem toca à campaínha e espera por alguém do outro lado da porta. Os olhos para mim sempre foram os melhores presentes... Aqueles segundos que antecediam a abertura "da porta" eram inexplicavelmente angustiantes. Deixavam-me numa expectativa que, julgo, era adicionada a alguma dose de adrenalina, pois sentia todo o meu corpo expectante por aquele momento.
Na verdade, eu nunca cheguei a perceber bem porque me sentia assim. Houve um momento que pensei tratar-se de uma mania qualquer perturbadora. Aquilo, realmente não fazia o menor sentido. Num dos dias que mais pensei no assunto, levei-me até ao DSM à procura de alguma sintomatologia semelhante, na ânsia de me ver descrito numa qualquer doença mental estranha. A verdade, é que nunca encontrei o que quer que fosse. Mas, a verdade maior é que eu nunca percebi nada de doenças mentais... Talvez tivesse sido desde o ínicio uma história bem planeada por alguma parte demasiadamente inteligente do meu inconsciente...
Enfim, ainda equacionei a visita a um psi qualquer. Lembrei-me do J. e do F., mas não fazia o menor sentido. Eram tipos que eu conhecia de infância, e o F. sempre me pareceu meio louco. Tive sempre aquela sensação de que ele tinha insistido na psiquiatria para se tratar a ele próprio por vergonha de procurar um agente externo, talvez como se sentisse violado no seu íntimo. De certa forma, eu até entendia isso muito bem. Nunca gostei que me entrassem por mim adentro sem pedir licença, também se a pedissem não a obteriam... E, depois quando tinhamos aquelas saídas de copos, por volta das 2 da manhã no fim de todo o alcool que sorvia, tinha a estranha mania de contar com pormenores os casos mais "excitantes" ou enfadiosos dos seus clientes. Não queria ser o protagonista de uma Sexta Feira à noite num qualquer bar lá da baixa... O J. era demasiado sério para o incomodar com tamanha futilidade. Rapidamente esqueci a ideia.
II
Desconfio que dentro deste meu pc existem milhões de pessoas, com milhões de coisas ou segredos para contar. Mas, no mesmo instante, acho que desaparecem com a mesma velocidade com que aparecem. É aquela estranha sensação de poderes estar em todo o lado e ao mesmo tempo em lado nenhum. É um sentido esquizofrénico da alma, porque o corpo esse permanece no mesmo imutável lugar das partidas e das chegadas. O mesmo acontece com o meu e-mail. Passam por lá centenas de pessoas que desaparecem no mesmo instante. Tenho aquele comando tão precioso que diz "delete" que me provoca um sádico prazer... Também já cheguei a preocupar-me com essa história...
Sempreque abro o meu e-mail, em ânsia angustiante, vou de encontro a ti. Às vezes está lá no fundo no meio da publicidade e das propostas que nunca me interessaram. Oiço-te a rir, vejo os teus malmequeres e sinto a tua respiração . Tu ris e eu sei que o mar azul turquesa está atrás de ti, se tiver um daqueles dias de sol que só tu aí consegues ter. Às vezes no fim de te ler transpiro, não sei se de saudade se de alívio. Quando escreves à hora do pôr do sol, eu sinto isso, porque as tuas palavras têm um sabor a crepúsculo. No outro dia quando te tentei explicar a minha saudade tu disses-te que não conseguias perceber o "mourning state of mind" que eu insistia em querer dizer, e repetis-te "stay with me" "stay with me, is all i wish in the morning at the window when i woke up and i whisper my wishes to the sea".
- De onde tiras-te essa frase?
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4 comentários:

Anónimo disse...

olá
Que giro que tu és, gosto de te ler. Gosto de conversar contigo, apesar de sermos os tais porcos espinhos , axo que somos mais kualker koisinha......É engraçado, conhecemos nos agora, mas já conquistaste um bom lugar aki na sala, e já te leio atentamente na expectativa do que vem a seguir, dás me pica, irritas me, divertes me, és um homem perigoso para uma mulher desprevenida.És sobretudo uma boa companhia, por isso te agradeço muito, por me fazeres companhia e por me aturares com este feitio de tempestade, já sei ke não sou nenhum desafio, mas tu és ...... beijos

Rui Miguel Ferreira disse...

..xiça! ...com comentários anónimos destes, vou passar a escrever todos os dias...
ih, gosto tanto da parte do "homem perigoso"...

Sobre a história.. talvez continue...

obrigado pelo carinho e atenção!

Bjo

Rui F.

Anónimo disse...

serei assim tão anónima? kuanto a escreveres todos os dias , bem podes.........beijos

Anónimo disse...

Olá, olá!

...bem este texto tá corrido, tá bom e espera-se mais. Não me vais deixar a pensar no resto???!!
Continua que escreves bem, mas escreves pouco.
Mas, coloca essa cabeça a pensar: se a escreveres tão pouco tens tantas fãns, imagina se escrevesses mais e a sério, sim! porque tu não escreves a sério, não escreves das coisas que sabes! está na tua hora.
Eu até já tou a pensar em fazer um blog também, só pa ver se depois tenho comentários como tu tens! Para chegar ao fim do dia e recarregar o ego... lol força RUI!

bjo