domingo, setembro 10, 2006

11 de Setembro

11 de Setembro de 2001

Enquanto indivíduos, há acontecimentos nas nossas vidas que nos mudam para sempre, que alteram a nossa forma de olhar, de sentir e por consequência de agir. Esses momentos de ruptura, direi baseado na minha parca experiência, não são frequentes. As experiências limite que nos alteram os traços transversais daquilo que na essência somos e fazem de nós aquilo que somos e que os outros entendem de nós, não acontecem muitas vezes nas nossas vidas, nem seria possível que tal sucedesse sob pena de uma desordem identitária esquizofrénica. Enquanto indivíduos, essas experiências muitas vezes ficam no sigilo de uma história de construção que é a nossa, assim como os pilares são sustentados pelo ferro invisível que dá origem e forma a uma estrutura diferente. Aquilo que transparecemos é o resultado de várias variantes algumas delas apenas nós as conhecemos e muitas outras que nem nós as sabemos.
E, há acontecimentos na sociedade, que alteram a vida de milhões de pessoas em simultâneo. É como se um corpo social que se dirige numa direcção, bruscamente invertesse a direcção. São rupturas magnânimas. Ficam na história, prevalecem para sempre. São recordadas, estudadas, avaliadas. Ficam na história, mas mudam o futuro. Estes acontecimentos, também eles à semelhança dos acontecimentos nas nossas vidas privadas, são raros.
O 11 de Setembro de 2001 é um desses acontecimentos. Para além da queda do muro de Berlim, não recordo um acontecimento, durante a minha vida, com tanto impacto. E, mesmo a queda do muro de Berlim foi diferente. Foi um sinal de esperança já ansiosamente aguardado. Fazia parte de um plano de futuro. O 11 de Setembro foi um choque, um golpe, uma lança à alma e coração de todos. Um retrocesso. O mundo mudou naquele instante.
Até esse momento mantive uma ideia negativa do pensamento, política e modo de vida americano. No momento da catástrofe, vergonhosamente admito, senti algum alívio por alguma coisa estar a acontecer contra os Estado Unidos. Tinha uma posição anti americana, influência de alguma estranha corrente de pensamento(?) europeia.
Depois das imagens do 11 de Setembro, comecei a mudar, assim como o mundo mudou naquele mesmo instante. Demorei um pouco mais, mas fui ao encontro da essência do que é fazer parte de uma cultura ocidental assente em princípios e valores de liberdade. Não foi um ataque aos Estados Unidos. Foi um ataque ao mundo, a todas as pessoas que, apesar das imensas coisas erradas que fazemos e não conseguimos ainda transformar, acreditam que esta é uma forma de vida melhor, mais livre, mais justa e ainda inacabada e tal como nós imperfeita. Os Estados Unidos são resultado da Europa e a Europa é resultado dos Estados Unidos. Vivemos uma cultura semelhante. Bebemos as mesmas bebidas, vestimos os mesmos jeans, vemos as mesmas peças teatrais, ouvimos as mesmas músicas… aspiramos por sonhos semelhantes e, podemos escolher alguns dos caminhos por onde passamos.
No World Trade Center, vivivam, trabalhavam pessoas de todos os continentes, de muitas cores, de muitas culturas, de todos os estratos sociais, de muitas bandeiras, de muitas religiões. Não foi um ataque aos Estados Unidos. Foi um ataque a um mundo que não precisaria de barreiras, mas apenas de todos.



























2948 mortos confirmados

24 dos quais desaparecidos

de 37 nacionalidades diferentes

de todos os continentes da Terra

(3 cidadãos portugueses)