terça-feira, abril 25, 2006

Um Comment que se tornou Post

Na visita que fiz a um dos blogs anexos, escrevi um comentário a um post relativo ao 25 de Abril. Depois de publicado, achei que fazia sentido (também) neste espaço.
(Desafio aos milhares de leitores de todo o Mundo do Rupturas - que eu sei que existem: se o 25 de Abril pouco vos diz façam as vossas apostas sobre qual o blog de onde advém o comentário.)
Transcrito na íntegra:
"
O 25 de Abril é para mim uma angústia.
Tive nas comemorações do 25 de Abril.
Sinto que perco o tempo, ou que o tempo se perde.
O sistema continua todo lá. Eu sou um filho daquela Revolução. O 25 de Abril foi um primeiro passo numa caminhada que ainda não foi iniciada. Falta na nossa sociedade a Revolução dentro das cabeças de todos. Somos, ainda um país numa deriva identitária ideológica. Há quem não faça a mínima ideia do que é a Democracia, porque ela simplesmente parece não existir dentro do corpo social português. Há quem viva como se o tempo não tivesse avançado nos últimos 40 anos...
Por diversas razões, tenho uma paixão enorme pela política. Cada vez que me aproximo, por consciência vejo-me obrigado a afastar no mesmo instante. Enquanto as pessoas forem as mesmas de sempre, enquanto no fundo, o sistema for de Estado Novo, de compadrio, de interesses selvagens, teremos sempre mais do mesmo: a angustiante necessidade de uma Revolução.Continuamos com uma Constituição por cumprir e que necessita de ser revista à luz da proximidade dos nossos políticos às pessoas ( a mim, a ti a nós), continuamos com projectos de interesse de influências corruptivas, continuamos com fundos comunitários vergonhosamente gastos, com uma justiça arrepiante, a educação paralizada... sempre um "mais do mesmo" extramamente cansativo...
Continua um Portugal à procura de uma identidade. Hoje não conseguimos ser europeus, nem ibéricos, nem atlânticos... somos um misto de tudo e nada no mesmo instante, porque as nossas escolas não transmitem os valores culturais europeus, da fundação do pensamento europeu; porque continuamos de costas voltadas à Espanha e ao iberismo (por consequência ao Mundo); porque as nossas relações com o Atlântico perderam-se para um turismo de multidão de praia de carácter selvagem, etc..
(...)
É esta a nossa Democracia? Não é a minha.
Este comentário angustiante já vai longo, bem sei. Espero que não o interpretem como uma ideia de retorno ao passado, mas antes de voltar as costas e de definitivamente olhar em frente para o futuro - um futuro que pode ser melhor para todos nós se nos soubermos educar, existir como portugueses, europeus e cidadãos do mundo e depois educar as nossas crianças com os valores e a ética das nossas raízes - a europeia.Tive um professor que foi um marco gigantesco na educação que hoje tenho e da qual me orgulho. Aprendi em todos os minutos com ele. No auge da construção rodoviária em Portugal na segunda metade dos anos '90, ele um dia disse na aula que "De que serve a construção das autos estradas, se temos caminhos pedrestes nas nossas cabeças?" - Prof. Santos Costa - onde quer que esteja um abraço do tamanho do mundo.
Bj Rui
Abril 25, 2006 7:48 PM
"

1

Eu vi aquele concerto contigo. Não eramos só nós, não senhor! Mas, era eu, tu e a música que vinha lá do palco que entrava por ali a dentro, assim como tu entravas... Lembras do calor que lá fazia? Como eu lembro... E, ironicamente da tempestade que se fazia sentir na rua? Numa das músicas houve um olhar. Eu entrei e tu entraste... Dei comigo lá dentro e senti a tua admiração inocente por te encontrares dentro de mim. Naquele instante, não estavamos em lado nenhum, a não ser numa ilha - naquela ilha (lembras da nossa ilha? tu, chamavas-lhe oásis...). Eu vía o mar, sentia o vento soprar-nos, as vagas e o arrepio da tua pele em mim... senti o teu corpo num arrepio de calor.
A música continuava ligeira e intensa.
Os encores sucediam-se.

Amanhã só recordarás a tempestade.

sábado, abril 22, 2006

Sonhos

Não sou seguidista de ninguém. Nunca fui seguidista do que quer que fosse, homem ou escola. Também não sou um homem de um vasto conhecimento. Interessou-me sempre mais, dentro do que se considera ser a razão e o conhecimento humanos, perceber a dada escala o funcionamento de certas coisas. Saber do que falo, quando falo de algo, e saber a escala, os limites que se impõem. E quando falo do que não sei, fazê-lo com a consciência disso mesmo, fazê-lo com a incerteza que todos temos àcerca de tudo, fazê-lo sem dar o passo maior do que a perna, evitando o disparate.
Se o consigo ou não, isso é outra história. As mais das vezes, sei que o não consigo.
Ora o princípio de que parto, que alguns dirão determinista - eu sem saber se o é ou não, que inscrições em catálogos foi coisa que nunca me preocupou - é que tudo evolui de acordo com um mecanismo bem determinado mas indeterminável pela mente humana.Basicamente - não haverá acasos. Não haverá acasos, não haverá sorte, não haverá vontade, não haverá livre arbítrio.Somos todos e tudo o que nos envolve, fruto das circunstâncias, internas e externas. Se é que o interno e o externo são de fácil distinção.No actual estado das coisas, bem ou mal, pouco importa, supomos, os que acreditam na ciência, que somos um somatório de partículas elementares. Somos nós e tudo o que nos rodeia. Matéria e energia, assim o dizemos. Matéria e energia, tanto quanto as diferenciamos e voltamos a confundir.
O importante para mim é que, partindo desse princípio, apenas sou o resultante de qualquer coisa que desconheço. Ao estar a escrever estas linhas, não sou eu, é o conjunto de matéria e energia que tem a minha forma. É uma ordem dada algures no tempo remoto que se complicou e assim resultou. Um passo no caos, um passo na ordem, um passo no tempo, um passo seja no que for. Nada mais do que isso.Se não fosse ateu, encaixaria nos divinos desígnios toda a sorte de ordem das coisas. Não o sendo, não sei em que a encaixar. Não teria crença onde a encaixar.
Mas partindo deste princípio, de cada vez que me dá a ilusão para julgar que existe de facto uma vontade própria, um livre arbítrio qualquer que seja, caio no mundo do sonho, que é onde de facto vivo.É que tem que ser forte a ilusão de que mandamos nas coisas, decidimos a nossa vida, seguimos por aqui e não por ali. Para que nos deitemos a pensar na primeira pessoa. Sujeito-me assim ao mundo do sonho, como todos os outros.Mas continuo convencido (e posso eu convencer-me de alguma coisa?) da mesma ilusão, dentro dela, como nos sonhos.Como nos sonhos - e é aqui que cabem - em que por vezes, saltamos de um sonho para o outro, julgando saber que o primeiro é sonho e o segundo o não é.
Supondo que é de níveis de compreensão das coisas ou de fé numa crença de que a compreensão é por ali e não por acolá, que se trata, então suponhamos pois que os sonhos são uma boa comparação.Quando se salta de sonho em sonho, sonhando que um é realmente um sonho e o outro o não é, podemos dizer que descemos ou subimos de nível, como se quiser.Aqui, neste argumentário absurdo, passo ao nível seguinte, o qual é, encarando as coisas tal como o mundo de Alice dita que eu as veja, uma combinação de seres vivos e matéria desprovida de vida. E de energia. Ora aqui convenço-me, iludo-me com o seguinte:A vida, nas suas mais diversas formas, parece ter um único fito, o de sobreviver. Seja lá a vida o que for. Cada um dos seres dela animados mais não faz do que abrir caminho a esse destino. Sobrevivemos, reproduzimo-nos, cuidamos das crias, uns mais do que outros.No mundo de Alice, chamamos amor, chamamos paixão à pulsão da sobrevivência da espécie que conduz à reprodução.Chamamos outros nomes a outras pulsões, mas todas elas concorrem para o mesmo fim.
Por fim, já em outro nível, mais baixinho, sempre no mundo das ilusões, continuo a espantar-me com os crentes na razão. Com os que tanto clamam por ela, sem rever os seus cálculos. Que tanto a exigem e dela fazem tábua-rasa. Que tanto criticam e não se olham ao espelho. Que tanta coerência pedem sem saberem o que é e em que quadro vigora, logo não a tendo em conta. Que dividem a política no mais reles dos Sporting - Benfica, em que os da cor são sempre bons e os outros sempre maus.Que não são capazes de extrair nem sequer as mais próximas consequências do seu argumentário. Fosse ele passado à prática.Por mim, reitero os meus votos de que o mundo jamais seja feito de acordo com os meus desejos.
E volto a sonhar…