sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Boleros

Há poucos meses, ensinaram-me a ouvir boleros. Não foi necessário muito para passar a ficar horas a ouvir a intensidade deste género musical. É um tipo de música que vive da força interior. É uma música que vem da alma e depressa nos encontramos envolvidos pelo seu embalo. É uma viagem sentimental.
Há vários artistas maravilhosos que interpretam o género. Los Panchos com Eyde Gorme, Chavela Vargas, Maria Martha Serra Lima, Luis Miguel, Pablo Milanez entre muitos outros que se vão descobrindo. Há os dos boleros mais clássicos, os dos mais intensos e interiores (os meus eleitos) e as novas interpretações (como com Lila Downs). Los Panchos com Eyde Gorme e Chavela Vargas são os meus preferidos. Por esta música viaja-se por toda a América Latina, pelos seus poetas e por lugares que se despenham na alma; pueblos mexicanos com praças em festa em noites quentes, o mar de Peru, Buenos Aires num entardecer em Puerto Madero ou uma noite solidão à luz da lua do Chile...
Eu comecei ao acaso com Chavela Vargas. Ouvi "Tu me acostumbraste" (uma música absolutamente incrível) repetindo-a sem parar. Encontrava nela sempre um novo sentido, um novo significado. Depois, uma amiga querida e para siempre inolvidable começou por dar-me a "Sabor a mí" interpretada por Los Panchos e Eyde Gorme, e apartir daí não mais deixei de ser acompanhado pelo género nas tristezas, nas alegrias, nas euforias... Procurei tudo de Chavela e de Los Panchos.
De Chavela Vargas, para além da música que não tenho forma de explicar a sua intensidade, a sua forma ou a forma como se atira à alma como um lobo se atira à sua presa, tem ainda a particularidade de ser uma pessoa para lá do extraordinário. Repleta de bravura, depois de chegar ao México, país que a acolheu vinda da Costa Rica, conviveu e teve como amigos personalidades como Frida Kahlo, Diego Rivera, Guadalupe Amor ou Dolores del Rio. Com 87 anos vive, canta e faz viver. É uma lenda.
Com Los Panchos (e Eyde Gorme em particular) o registo adocia-se, mas não se deixa domar.
A alma agradece, pois vê-se a princípio exposta das suas fraquezas, para depois lentamente se deixar revelar e pacificar deixando as dores tornarem-se sorrisos de vida.. e tudo em forma de canto.
Claro que o amor pela música e pela multiculturalidade são condição primárias. Se for o seu caso, deixe-se levar e verá que está perante uma das melhores terapias.


Luz de luna pela lendária Chavela Vargas



Yo quiero luz de luna
Para mi noche triste
Para soñar divina
La ilusión que me trajiste
Para sentirte mía, mía tú
Como ninguna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Si ya no vuelves nunca
Provincianita mía
A mi senda querida
Que está triste y está fría
En vez de en mi almohada
Lloraré sobre mi tumba
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Yo siento tus amarras
Como garfios, como garras
Que me ahogan en la playa
De la farra y el dolor
Y siento tus cadenas a rastras
En mi noche callada
Que sea plenilunada
Y azul como ninguna
Pues desde que te fuiste
No he tenido luz de luna
Pues desde que te fuiste
No he tenido
luz de luna.


Sabor a mí com o trio Los Panchos e a belíssima voz de Eyde Gorme



Paloma Negra uma música tornada imortal por Chavela Vargas na voz de Lila Downs

domingo, fevereiro 10, 2008

Mudanças no horizonte

As eleições americanas de 2008 merecem um olhar muito atento.
Seja qual for o candidato eleito a presidente, não penso que se produzam grandes modificações a nível global das políticas até agora praticadas, sobretudo porque o que se passa na política internacional é hoje uma "quase fuga para a frente" na espectativa de que alguma coisa possa acontecer que deflagre uma solução que agrade a todos (bem sabemos da impossibilidade de tal acontecimento). Falo, claro está, do conflito no Iraque e toda a instabilidade daquela região do mundo. Ao invés, penso que a nível interno nos EUA possam acontecer mudanças significativas dependendo do candidato eleito.
Mas, há um outro sinal para o mundo vindo das primárias americanas. Temos um negro e uma mulher a disputar um lugar. Não creio que essa mensagem tenha o devido destaque em Portugal, onde a nossa democracia está cada vez mais reduzida de representatividade.
Mas, essa parece-me a grande mudança. Hillary é o rosto da coragem depois dos escândalos a que foi sujeita no passado como Primeira Dama. Obama é o primeiro negro com reais possibilidades de se tornar Presidente do EUA. Pela primeira vez o mundo assiste a uma luta de poder mais próxima da representatividade. É uma revolução ao nível da consciência humana. É uma imagem muito poderosa: nos EUA na disputa do lugar mais poderoso pela primeira vez um homem negro e uma mulher. Impensável à poucos anos.
Não sei das reais capacidades de um e de outro. Dos lobbys que os apoiam não sei ao certo, mas o que podemos olhar com atenção é para a abertura que o mundo lentamente (demasiadamente) começa a ter para a diversidade e igualdade de direitos.
O país mais rico, poderoso e odiado do mundo está a dar uma lição democrática extraordinária (revolucionária) e acendeu mais uma vez o rastilho. A mudança está aí, só precisamos de não a ignorar.




domingo, fevereiro 03, 2008

Sons ambientes.. (Domingos a.m.)

Sons ambientes..
(Domingos a.m.)

As manhãs de Domingo instrospectivas, acontecem-me ao sabor de certos elementos específicos. Não que eles sejam absolutamente necessários para que "isso" aconteça, mas têm a propriedade de acelerar ou retardar o tempo e a sua constância. Hoje é o frio, a chuva, o vento, o cinzento do dia para lá do grande vidro que me separa do toque deles. Cá dentro é o café e o seu aroma intenso, o conforto e algumas músicas em ambiente. Corro algumas revistas e jornais internacionais e há neles grandes acontecimentos, outros pequenos também. O mundo parece infinito e no instante seguinte parece tão pequeno e ao alcance de nós.
As pessoas são fantásticas na sua diversidade e na viagem que fazemos nelas encontramo-nos a nós.
Gosto dos Domingos de manhã assim.

Sugestão a) Alice Russell - To Know This (Live at Hanbury Ballroom)



Sugestão b) Mariana Aydar - Beleza Pura



Sugestão c) Céu: Malemolencia