domingo, janeiro 07, 2007

Sonhos vencidos

Algumas vezes, tenho aqui, escrito sobre as coisas pequenas… aquelas tais que têm um dom especial de fazer crescer, modificar alguma coisa na essência de cada um. Não sei se acontece assim com todas as pessoas, talvez não. Nunca pensei realmente nisso e talvez nem o queira fazer. Comigo acontece.
Aconteceu no dia em que vi Million Dollar Baby – Sonhos vencidos, um filme de Clint Eastwood por si protagonizado, Hillary Swank e Morgan Freeman. Este filme foi, para mim, um choque ou um peso… criou momentos de crise em mim. O filme causou-me arrepios, mudou-me a expressão na face, contorceu-me o corpo no sofá, retirou-me as palavras e deixou-me mudo, obrigou-me a abrir mais os olhos e a fecha-los e molhou-os… assustou-me e deu-me vontade de sair e lutar mais … Criou uma revolta dentro de mim e deixou-me abatido e no instante seguinte fez-me cair por terra.
Talvez nem seja a palavra “peso” mas o próprio peso que tenha ficado. Não é o “peso” da culpa ou o “peso” de uma qualquer emoção arrebatadora que te deixa sem reacção – não acredito que seja um desses “pesos”… talvez seja o “peso” da vida, daquilo que ela é, pode ser ou se torna, das suas emoções e dos contrastes e lutas que se desenvolvem, nas disparidades das existências que as pessoas podem viver fruto de uma inexplicável lotaria, que eu gostaria tanto de saber a razão de ser, como se forma ou qual o caminho que pisa. Das emoções, dos sentimentos, das relações entre as pessoas, dos medos e dos risos mútuos e das decisões obrigadas – daquelas que fugimos que não queremos ter, de Deus... Da perda, mas também dos ganhos. Das vitórias e das derrotas. Da vida e da morte. Do principio e do fim.
Um momento pode ser o princípio e o próprio fim de uma razão ou da razão que está para além do que a compreensão possa descortinar.
Durante os momentos seguintes o meu corpo manteve-se contorcido pelo “peso”.. A leveza, essa, é insustentável e deixem-me acrescentar: é terrivelmente insustentável. É o “peso” que refina as emoções, traça o rosto com as marcas que não são só do tempo.. A vida é um mistério sem resolução, porque talvez, nunca se procure a resposta. Ou, porque tão simplesmente, tenhamos medo de colocar a verdadeira pergunta.
São os rasgos na pele de quando tiramos da nossa vida as pessoas que amamos que ajudamos a construir que nos construíram, por exigência dela própria. A vida talvez seja o somatório de duas partes: a batalha que travamos connosco e com os outros e a aleatoridade (porque acho que tenho medo de lhe chamar sorte) dos caminhos que ela nos faz seguir.