domingo, maio 07, 2006

150 anos de Sigmund Freud


A evolução do pensamento ocidental, e por consequência, da nossa própria forma de olhar, compreender e agir sobre o mundo, deve o seu impulso a alguns dos pensadores mais brilhantes de sempre e para os quais temos uma dívida sobre aquilo que hoje somos.
A evolução da nossa sociedade nos últimos 5 séculos deve-se, muito particularmente, a algumas mentes extraordinárias que ruíram com a matriz narcísico/divina do ser humano. Primeiro com Galileu, depois com Darwin e depois com Freud.

Galileu tirou o homem e a Terra do centro do Universo, ao desacreditar a teoria do geocentrismo, advogando a teoria do heliocentrismo.
Darwin contrariou a criação divina do homem descrita pela Bíblia ao provar a teoria evolução das espécies.
Freud revolucionou a sociedade ao anunciar a existência do inconsciente – a “tal” zona do psiquismo constituída por pulsões, tendências e desejos cuja formação se deve em grande parte às etapas da infância. Uma zona que não é passível de conhecimento directo e que é a essência do individuo.
Para além de todas as outras revoluções que Freud trouxe para vários campos da sociedade, aquela que eu enquanto leigo nestas matérias mas profundo interessado considero a principal, é a continuidade na perspectiva de um novo conceito de homem que vinha já de Galileu e Darwin. Com Freud, o homem sabe que por força do inconsciente, nem ele próprio controla. Deixámos de ser o centro do Universo, para compreendermos que fazemos parte da mesma natureza de todos os outros seres vivos, que respondemos pelas leis da natureza e que nem sobre nós temos o verdadeiro controlo que acreditaríamos alguns séculos atrás ter sobre todo o Universo. É uma espécie de morte do narcisismo, é uma espécie de descer dos píncaros de um lugar que nunca existiu.

150 anos após o nascimento de Sigmund Freud, a ideia que temos de nós próprios e o Ocidente enquanto colectividade, é radicalmente diferente. No século XX a arte: o cinema (Bergman, Woody Allen, Hitchcock,…), a pintura (Dali,…), a literatura, a música, os movimentos políticos e os estranhos movimentos do coração incorporam a linguagem de Freud. No quotidiano mais vulgar Freud está presente; até nos desequilíbrios do vizinho a nossa linguagem incorpora a linguagem de Freud – pode ser psicótico ou depressivo, seja lá o que essas expressões queiram dizer elas já fazem parte da linguagem quotidiana. Gostamos de ser complexos, de ter aquele mundo interior que é só nosso e que mais ninguém imagina, gostaríamos que o nosso inconsciente esquecesse partes do nosso passado, mas não foi passado nenhum, é uma parte do presente, gostamos da forma como Freud prestou atenção às coisas mais pequenas e quotidianas mostrando-nos que as coisas mais triviais da vida afinal não são assim tão insignificantes como pensávamos e por vezes são as mais importantes, … Poder-me-á ajudar a compreender porque não gosto de leitão sem nunca o ter provado ou porque às vezes a raiva, por incrível que pareça, parece “saber” bem ou mesmo a razão porque estou a escrever este artigo.

Aquilo que sou e que somos seria extraordinariamente diferente sem Freud. É essa a homenagem que lhe devemos. Viena, Berlim, Paris, Roma, Madrid, Londres, Nova Iork... multiplicam-se em actos, exposições, livros, conferências que possam recordar alguém que nos ajudou a dar mais uns passos em frente.

Eu vou voltar a abrir a “Psicopatologia da vida quotidiana”...

4 comentários:

Marco Aurélio disse...

Rui

Perdi a data para fazer um post em homenagem ao aniversário de 150 anos de um dos maiores pensadores do século 20, conhecido popularmente como o pai da psicanálise, Sigmund Freud. Hoje escrevi sobre ele. Lendo sobre quem escreveu sobre este gênio achei melhor não me estender muito. Melhor ver os comentários. Encontrei textos realmente bons.

Um abraço

Marco Aurélio

Madame Pirulitos disse...

Pensei em fazer tambem um post sobre ele. Depois pensei: ele não precisa. E eu? pronto, lá estou eu com a psicopatologia da vida quotidiana...
Já tinha saudades. Ando afastada mas vou voltando. Beijos.

Marco Aurélio disse...

Rui

Tenho um apreço muito grande por Portugal e qualquer hora dessa apareço ai do outro lado do Atlântico. Te espero novamente.

Tudo de Bom para você!

Anónimo disse...

Olá!

Essa é uma visão extraordinariamente inteligente do que Freud representa. Parabéns!

Alvarez