quarta-feira, novembro 16, 2005

Falar de amor

Falar de amor
É um desafio falar de amor.
No último post "a palavra amor", criou uma discussão muito interessante. Houve comentários apaixonados, outros que questionaram, houve quem não comentasse porque a força da palavra antevê emoções incómodas... É um termo com força, que não é indiferente, que sabemos existir mas não sabemos o que é. "Ele" anda por aí, "ele" acontece..
Podemos pensar o amor. Podemos deixar a prudência para trás, por um momento, e pensá-lo. Não me parece, este ser um desafio estéril. Pelo contrário, pensar "o amor", é também, encontrar as bases que permitam conhecer o que somos, quem somos.
A constatação é simples: a complexidade que é pensar o amor necessita de uma racionalização aberta.
Vivemos sob o domínio das ideias racionalizadoras, que não consideram aquilo que se passa, mas que priveligiam os sistemas fechados, coerentes, consistentes. A ciência económica contemporânea, ciência formalizada, matemática são um magnífico exemplo de racionalização fechada, não considera as paixões, a vida, a carne dos seres humanos. É incapaz de efectuar uma previsão quando aparece um acontecimento inesperado.
O desafio está lançado. Pensar o amor de forma aberta. Trata-se de falar de incertezas, de caos. Não somos seres líquidos nem sólidos. Somos híbridos, que vivemos , que vivemos à temperatura da nossa combustão, da nossa destruição. Vivemos na e da projecção que fazemos e vivemos do e no outro.
O amor é o acontecimento inesperado, caótico que deriva do facto de aparecer em nós, de se projectar no outro e que se projecta do outro para nós. É um processo imprevisível e aparentemente desordenado. O amor é um processo regenerador. Ele provoca alterações biológicas visíveis, parece alterar a forma como abordamos o exterior. A desordem interna que causa é a fonte de regeneração do ser, da forma como eu vivo as coisas, como por consequência as altero. Provoca o caos e desse caos nasce um novo universo de formas.
O amor é como o universo, é um cocktail de ordem e de desordem, um cocktail muito diferente consoante os casos, as condições, os lugares, os momentos... Consoante o ângulo de observação, o mesmo fenómeno pode provir tanto da ordem como da desordem.
Falar de amor é encontrarmo-nos no nosso âmago, descobrirmo-nos. Seria bom sabermos o que é o amor ou pelo menos conseguir-lhe as pistas.
Dizer que amamos o outro implica todo um mundo novo. Tudo pode ser alterado quando dizemos "amo-te". O mundo pode simplesmente mudar. Acrescento - importante é que mude para melhor...
O amor é felicidade, mas também é dor.
Quantas vezes fechamos os olhos, recusamos olhar e dizemos a palavra mágica no escuro, à espera que possa fazer um milagre?
Quantas vezes criamos a ilusão?
Sendo o amor uma parte tão importante das nossas vidas, se não a mais importante, porque recusamos dar-lhe a atenção que merece?
Por uma vida mais feliz.
"Há já algum temo que os seres humanos se encontram a atravesar uma nova fase evolutiva, em termos intelectuais, na qual as suas mentes e os seus cérebros e as mentes que vieram da natureza resolvem fazer de aprendiz de feiticeiro e influenciar a própria natureza. Mas também é arriscado não aceitar o desafio e não tentar minimizar o sofrimento. Os riscos de não se fazer coisa nenhuma são ainda maiores. Fazer apenas o que a natureza dita só pode agradar áqueles que não conseguem imaginar mundos melhores e alternativas melhores. Áqueles que pensam que já estão no melhor dos possíveis mundos."
in: O erro de Descartes, António Damásio

13 comentários:

polegar disse...

posso falar de amor. posso pensar no amor. mas o amor sente-se.

Madame Pirulitos disse...

O amor é felicidade, mas também é dor.

E no fundo é isso a nossa vida, ter a capacidade de resistir à frustração, é aceitar que a dor mental é necessária ao crescimento,é ter a capacidade de imaginar...já posso imaginar que faço.

Ouve herois do mar: o amor...

Sim, sim, sim...e o amor sente-se.

colher de chá disse...

Apesar de tudo... até gosto de pensar no amor. Gosto da difícil tarefa de o objectivgar por uns segundos, tentar concretizá-lo e, regra geral não conseguir lá muito bem.
Amor não tem regras. Não tem horas. Amor não pode ter conpromissos. Amor é genuínamente tudo aquilo q somos condensado num sentimento só. Amor é bom e é por isso que acaba quase sempre mal.
Mas no final, Amor Sente-se, com letra maiúscula.

Bj a todos

Rui Miguel Ferreira disse...

Sim , amor sente-se. Sim, também pode ser dor e sim, também pode terminar mal...

Mas, por vezes não determinamos por amor aquilo que não é? Porque, teimosamente, queremos que seja?

O amor é alguma coisa de certeza. Se soubermos um pouco mais sobre esse mistério talvez o amor não tenha tanta dor e talvez não termine...

Bjs

Rui

Rui Miguel Ferreira disse...

...estou encantado..

SalsolaKali disse...

…ai!
E tu a dar-lhe, hein?!
Pois… eu gostava de conjecturar sobre o amor, mas não consigo.
Fica para a próxima, está bem?
:)
BJ GR
SK

Rui Miguel Ferreira disse...

Salsola Kali,

Olá.. está bem. Estás à vontade.

Bj

Rui

Anónimo disse...

Falamos em fazer amor, mas amor faz-se? Amor sufoca, amor desatina,Amor é obsessão: até quando, até quando, até quando? Amar é amargo, e promessas de amor são voláteis. Amor maldito que invade pensamentos... Mas amar não é negar o medo, a razão, o tempo? Amar é afirmação nascida de negativas, e não amar é sofrer mais. Tu falas no amor que é livre mas a liberdade não está na prisão dos teus braços? Amor é como uma fotografia que fixa limites para superá-los. Amor é renúncia a muitas coisas, mas também a maior transcendência que podemos alcançar neste mundo.

Rui Miguel Ferreira disse...

Cara(o) Anónima(o),

Sim, acho que o amor também se faz. Mas, o amor não deveria sufocar e não deverá ser obsessão. Isso são emoções e sentimentos diferentes de amor. Amar não tem de ser necessariamente "sofrer mais", ainda que fazer generalizações possa ser perigoso.

Eu sou livre quando posso realizar-me. No amor a liberdade é a minha realização no outro e do outro em mim, essa espantosa arte de amar.
Nesse sentido, e se compreendermos as limitações humanas de cada um, é nos meus braços que começa a liberdade

(...)
Penso que tens uma visão demasiado pessimista do amor, ou talvez lhe estejas a exigir "coisas" a mais e isso, invariavelmente, trará uma responsabilização que o amor, muitas vezes, não suporta...

Mas isso, sou eu a imaginar coisas..

Obrigado pela visita.
Volta sempre.
Rui

Anónimo disse...

Não, não estás a imaginar nada. Se calhar exijo demasiado, e racionalizo o que devia só de sentir.
Mas sabes como é, às vezes pensamos demais.
bjk

Eurídice disse...

Hola, soy Eurídice de 'Blanco Roto'. Siento mucho que te encontrases con la Nada, pero he cambiado un poquito de dirección, nada más es eso. Me he desplazado a esta otra con mi nuevo nombre*

Espero que te siga gustando!
Bienvenido al nuevo rincón.

Besos!!

SalsolaKali disse...

Assino por baixo zahaara.
Então, oh, oh meu amigo...!?
Quando é que mudamos de assunto?
;D
BJ SK

Madame Pirulitos disse...

Então Rui, sentimos-te a falta...