domingo, junho 25, 2006

...e mais The Stone Roses...

... a chuva lá vai, lentamente, passando... vão ficando as nuvens.


The Stone Roses

I wanna be adored

I don't have to sell my soul
he's already in me
I don't need to sell my soul
he's already in me
I wanna be adored
I wanna be adored

I don't have to sell my soul
he's already in me
I don't need to sell my soul
he's already in me
I wanna be adored
I wanna be adored

Adored

I wanna be adored
You adore me
You adore me
You adore me

I wanna
I wanna
I wanna be adored

I wanna
I wanna
I wanna be adored

I wanna
I wanna
I wanna be adored

I wanna
I wanna
I gotta be adored
I wanna be adored

domingo, junho 18, 2006

...chuva e céus cinzentos

E, enquanto a chuva resolve continuar Junho fora, relembro sons de outros tempos (que tempos!)...
Ena, ena(!) 'tou nostálgico.... chuva e céus cinzentos... e Stone Roses..



The Stone Roses.

Going Down

Dawn sings in the garden
Phone sings in the hall
This boy's dead from two day's life
Resurrected by the call
Penny here we've got to come
So come on round to me
There's so much penny lying here
To touch, taste and tease
Ring a ding ding ding
I'm going down
I'm coming round
Penny's place her crummy room
Her dansette crackles to Jimi's tune
I don't care I taste Ambre Solaire
Her neck her thighs her lips her hair
Ring a ding ding ding I'm going down
I'm coming around

All thoughts of sleep desert me
There is no time
Thirty minutes brings me round to her number nine

Yeah she looks like a painting
Jackson Pollock's Number Five
Come into the forest and taste the trees
The sun starts shining and I'm hard to please
Ring a ding ding ding I'm going down
I'm coming around

All thoughts of sleep desert me
There is no time
Thirty minutes brings me round to her number nine

To look down on the clouds
You don't need to fly
I've never flown in a plane
I'll live until I die

segunda-feira, junho 12, 2006

Já quase ninguém é ao longe, já quase em ninguém se vive o desejo ou a credibilidade de um mundo outro, muitas vezes viver deixou de ser vivível. Mas continuará sempre a haver lugares e momentos de resistência em que o desejo de reinveste, lugares e momentos de relação com a alteridade em que nos aproximamos daquilo que desconhecíamos e que, de repente, descobrimos como se desde sempre nos tivesse pertencido. O Amor continua a ser um desses momentos, o Amor é ainda um segredo no deserto, uma possibilidade, sempre em aberto, da alteridade se cumprir, da singularidade se iluminar e resistir à velocidade com que o mundo se inebria e igualiza. É que quando se ama tem-se a impressão de Renascer, se bem que não se soubesse que se estava morto.
AMOR: GRANDES CERTEZAS, MUITAS INCERTEZAS

Por: Terezinha A. Marcon Constante e Viviane Borges Goulart

Ferreira (l999), em seu dicionário, assim registra: “O amor é um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem; ou de alguma coisa”. Este é um significado, mas esse termo “amor” tem sido usado em sentidos tão diferentes, que nenhum conceito consegue abrangê-lo, e cada tentativa de explicá-lo sempre exclui outras.
De acordo com Pereira (l987), relativamente ao amor, “o esforço de elucidar o tema parece dar, como resultado, apenas a percepção de sua complexidade”. Pensadores, filósofos, psiquiatras e estudiosos já tentaram desvendar esse mistério, que provoca sérias mudanças no comportamento humano, mas logo notaram a diversidade intrínseca do amor e jamais conseguiram estabelecer um conceito, menos ainda uma definição.
Segundo Rollo May (l987), distinguem-se, na cultura ocidental, quatro formas de amor: “Sexo, às vezes chamado de luxúria ou libido (ou, pelos gregos antigos, epytymia); Eros, impulso de procriação e criação; Philia ou amizade, amor fraterno; Ágape ou caritas, o amor devotado ao bem dos semelhantes, essência filosófica do cristianismo em sua doutrina original. Num conjunto de entrevistas objectivando conceitos de amor, para psicóloga Maria Tereza, “o amor é um sentimento que envolve sensações de prazer e bem-estar e que ocorre quando existe um senso de identidade entre pessoas com identidades bem definidas e diferenciadas”. Para ela, o amor não se limita a preencher carências, mas significa uma relação de complementaridade e enriquecimento mútuo. O amor representa a essência da vida, nele se encontra um sentido para viver cada dia.
Ainda, a partir das entrevistas com pessoas de faixas etárias e níveis sociais diferentes, identifiquei outros conceitos importantes. Para uma estudante de jornalismo, l7 anos, “o amor é a união de todos os bons sentimentos. Envolve muitos mecanismos humanos (físicos, químicos, psicológicos), e torna-se realmente difícil defini-lo. Porém, arrisco-me a dizer que amar consiste em estar num inconstante estado de graça, numa perturbação interior involuntária. Compreende uma relação de bem-querer, cujo enigma nos é mostrado em cada gesto, intimidado, no entanto, por qualquer manifestação expressiva. No amor ocultam-se os verdadeiros mistérios da vida.
Para Cleuza, 35 anos, deficiente visual, o amor está nas sensações e na natureza: “Escuto e sinto o vento, o barulho da folha que cai, sinto o cheiro do verde. Respiro e sinto calor, às vezes ouço a chuva tocando a terra. Ao ouvir e sentir, caminho para a vida que não vejo, buscando conhecer o que é amor”. Para a professora Maria da Glória, 39 anos, “o amor é a aceitação do próximo”. E para Santana, 63 anos, mãe de l2 filhos, “o amor é para sempre, é uma fonte viva de fé, que fortifica e impulsiona a vida”.
Entrevistando crianças e adolescentes de uma escola pública, percebi que o amor ainda se revela puro e inocente, desejando o bem do próximo, reconhecendo a figura materna como o amor mais profundo e verdadeiro. E remetendo-me, agora, a Platão, aí identifico o amor como desejo de união com o belo, um processo de ascensão espiritual que progride rumo a um estado de contemplação do cosmos, de comunhão com o Ideal, de que se constituem exemplos o amor de Dante por Beatriz e de Petrarca por Laura. Situados entre as fronteiras do humano e do eterno, o amor e a esperança de felicidade, para Dante e Petrarca, ameaçam esvaziar-se com a morte de Beatriz e de Laura. Porém, Dante, em seu itinerário das trevas para a luz, coloca Beatriz na eternidade paradisíaca, porque acredita que ela tenha atingido o mais alto grau de pureza, passando a ser a ligação do humano com o divino. Beatriz, não a mulher, mas a essência, torna-se, para Dante, a representação de que o eterno se concebe, de que o reino de Deus se faz a partir do reino do homem e que isso acontecerá por intermédio da amada. Beatriz é quem o guia no céu, simbolizando o conhecimento dos mistérios divinos. Ela conduz Dante até a morada do Criador e, lá, por um instante, ele desfruta da suprema visão de Deus, visão tão doce que palavras humanas não saberiam expressá-la. A ideia de tempo precário, para Dante, encerra-se na entrada do Paraíso, onde mora o Amor absoluto.
Para Petrarca, o passado é alimento indispensável ao presente. Amou Laura platonicamente a vida inteira, sem jamais declarar-se, e a ela dedicou seus melhores poemas. Com a morte de Laura, o eterno ficou cristalizado no tempo, ou seja, no passado. Sua memória, sempre renovada pela saudade e lembrança de Laura, o consome. No passado, onde ficou a amada, está o suporte para sua existência: E só de nela pensar consigo paz. Petrarca amou Laura, em vida, por 2l anos,
De preso Amor vinte e um anos ardendo,
sem esquecer sua beleza primeira

Ele a via com os olhos da alma, imortalizando-a em esperança e desespero:
E assim de uma só clara fonte viva
Vêm-me o doce e o amargo, que me alimentam.

A ausência da amada fá-lo pensar na própria morte:
Assim face aos cruéis golpes da morte
fujo não célere demais
O amor em Dante e Petrarca transcende o plano terrestre e chega à abstracção total, que a voz de Camões também tenta alcançar, como um dizer imponderável, porque imponderável é o Amor.
Analisar a poesia lírico-amorosa de Camões, é partir de reflexões sobre o sentimento que aflige os corações humanos. Sua poesia desvenda um “eu” que, guiado pela razão e pela emoção, experimenta os mais íntimos pensamentos e desejos, a insatisfação amorosa, a angústia do homem. O poeta não descreve o amor apenas como um sentimento impulsionado por desejos, mas que vem da alma. Na relação com a natureza, busca a “Cousa amada”, a alma ligada à natureza, no pranto amoroso:
Co’a água que cai
Daquela espessura,
Outra se mistura
Que dos olhos sai.
Toda junta vai
Regar brancas flores;
Onde há outros olhos
Que matam de amores.
Celestes Jardins: As flores, estrelas;
Horteloas delas
São uns serafins.
A presença da natureza torna-se sentimentos, angústia em busca do amor:
Sinto o cheiro do verde, as flores caindo,
Os pingos da chuva, o vento.
Respiro quase sufocado,
Caminhando para conhecer o que é amor.

São versos que fazem retornar a Cleuza, 35 anos, deficiente visual, que procura conhecer o amor através do cheiro, do vento. Para muitos poetas, a natureza estabelece uma relação essencial com a alma, em suas emoções mais profundas.
Na poesia de Camões, a insatisfação humana é representada na constante angústia de conceber o amor, na luta íntima entre o real experimentado e o ideal buscado, comunhão plena, a transformar, não os que se amam numa só carne, mas, mais que isso, numa só alma.
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar:
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada...
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si, somente, pode descansar,
Pois com ele tal alma está aliada.
Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia,
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples, busca a forma.
É um processo de assujeitamento tão radical, que mesmo o que é contraditório nega a polaridade, rompe com o conceito de dor:
Amor é fogo que arde sem se ver:
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

A negação da polaridade quer dizer a vitória do sentimento, do coração que consegue elevar-se ao encontro da Razão, o Amor por ela vencido, não para ser aniquilado, mas sim para chegar ao inteligível, ao cósmico, ao Ideal, elevado a uma condição maior, sem comparativos:
Sempre a Razão vencida foi de Amor
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis amor ser vencido da Razão
Ora que caso pode haver maior.

Assim, no lirismo de Camões, o amor é visto como ideia e como manifestação de carnalidade. Camões não descreve uma mulher ideal, mas um ideal de mulher, um desejo que se supera, uma carnalidade que é sábia ao vencer-se pela contemplação, não de uma formosura ideal, mas de um ideal de formosura:
Porém como resisto
Contra um tão atrevido e vão desejo?
Faço-me forte nessa vista pura.
Armando-me da vossa formosura...

Uma outra vez é oportuno retornar às entrevistas. Para a estudante de Jornalismo, “o amor envolve muitos mecanismos físicos, psicológicos, químicos que causam uma perturbação interior”. Camões soube descrever toda essa “perturbação interior”. O amor como objecto do desejo, na lírica de Camões, é composto de sentimentos contraditórios que se tornam mistério e causa de inconformismo, para chegar ao amor como um inconstante “estado de graça”, mobilizador de profundas mudanças de estados de alma:
Mudam-se os tempos, mudam as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança,
Todo mundo é composto de mudanças,
Tomando sempre novas qualidades.

Camões esforça-se para encontrar uma essência das coisas, fruto de vivências, procura representar a experiência do homem, não como um sentimento individual, mas “Amor” que perturba, angustia, desespera, a razão de ser de um homem, de uma sensibilidade guiada pela esperança, na busca incessante da realização amorosa.
Como Petrarca amou Laura, e Dante a Beatriz, também Camões expressou o “Amor” elevado a sentimento universal, dividido entre o mundo sensível e o inteligível, um sentimento imponderável, um sofrer que mata, e, ao mesmo tempo, uma esperança que alivia. O “poeta do amor”, em seus poemas, fala da dor do homem, do descontentamento e da esperança. Em Camões a dor se aprimora, reconstruindo, pelo Amor, a harmonia dos corações humanos, na luta constante entre o ser e o que deve ser, mundo em desconcerto:
Quem pode ser no mundo tão quieto
Ou quem terá tão livre pensamento
Ao ver e notar do mundo o desconcerto?

quarta-feira, maio 17, 2006

A espera

Uma leitura de Haja o que houver de Pedro Ayres Magalhães

(Fica, aqui, mais uma homenagem a Pedro Ayres Magalhães. Em co-autoria com Marion Maldener.)

A poesia de Pedro Ayres Magalhães recorda a poesia trovadoresca. Evoca os seus temas preferidos, o Espírito e o Amor. As suas obras são retratos de momentos fugazes, de emoções, feitas de sonhos e paisagens, esperanças e saudades.

Nos seus poemas, o músico e poeta, expressa o amor à cultura portuguesa, com palavras impregnadas de saudade, nostalgia e suavidade. Comprometido com essas emoções, Pedro Ayres, romântico e sentimentalista, escreve os seus versos mergulhado na própria alma, em apelos e súplicas numa eterna espera.


Haja o que houver foi composto em l997, integrando o álbum “O paraíso” de Madredeus.

Haja o que houver

(Pedro Ayres Magalhães)

Haja o que houver
eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento
ó meu amor
Volta depressa
por favor.

Há quanto tempo
já esqueci
porque fiquei
longe de ti.
Cada momento
é pior.
Volta no vento
por favor.

Eu sei, eu sei
quem és para mim.
Haja o que houver,
espero por ti.

Neste poema, a espera incessante está presente no refrão, um recurso típico da poesia popular, das cantigas de amor e de amigo, como expressão do desgosto de amar e de ser abandonado, de momentos de dores trazidos pela ausência.
Haja o que houver fala do amor em ausência, numa distância física. A morte da pessoa amada trouxe a amargura, o apelo, a esperança: Volta depressa... Volta no vento...

Uma outra compreensão do poema coloca a pessoa amada numa distância emocional, diferente da distância física, pois, quando um deixou de amar, está insensível, apesar de ambos estarem presentes fisicamente.


Este poema coloca o amor como sentimento mais próximo da alma do que dos sentidos, que não arrasta, nem à morte e nem à desesperança. Evoca traços trovadorescos, ainda que tenha sido escrito na actualidade, e o sentimento autenticamente português – a saudade.


Constituído por versos livres, sem grandes preocupações com a métrica, este é um poema composto por vinte versos, numa linguagem onde os verbos merecem atenção. Conjugados no presente, pretérito e futuro, constroem uma imprecisão temporal.


A insistência na metáfora, Volta no vento, clama por um retorno veloz, que se iguala a um vento uivante. É um clamor reiterado em outros versos, que dá a ideia de espera incansável.

Fascina-me a simplicidade com que se transmite tamanho sentido.

Haja o que houver,

espero por ti.

Para ler e/ou ouvir.

domingo, maio 07, 2006

150 anos de Sigmund Freud


A evolução do pensamento ocidental, e por consequência, da nossa própria forma de olhar, compreender e agir sobre o mundo, deve o seu impulso a alguns dos pensadores mais brilhantes de sempre e para os quais temos uma dívida sobre aquilo que hoje somos.
A evolução da nossa sociedade nos últimos 5 séculos deve-se, muito particularmente, a algumas mentes extraordinárias que ruíram com a matriz narcísico/divina do ser humano. Primeiro com Galileu, depois com Darwin e depois com Freud.

Galileu tirou o homem e a Terra do centro do Universo, ao desacreditar a teoria do geocentrismo, advogando a teoria do heliocentrismo.
Darwin contrariou a criação divina do homem descrita pela Bíblia ao provar a teoria evolução das espécies.
Freud revolucionou a sociedade ao anunciar a existência do inconsciente – a “tal” zona do psiquismo constituída por pulsões, tendências e desejos cuja formação se deve em grande parte às etapas da infância. Uma zona que não é passível de conhecimento directo e que é a essência do individuo.
Para além de todas as outras revoluções que Freud trouxe para vários campos da sociedade, aquela que eu enquanto leigo nestas matérias mas profundo interessado considero a principal, é a continuidade na perspectiva de um novo conceito de homem que vinha já de Galileu e Darwin. Com Freud, o homem sabe que por força do inconsciente, nem ele próprio controla. Deixámos de ser o centro do Universo, para compreendermos que fazemos parte da mesma natureza de todos os outros seres vivos, que respondemos pelas leis da natureza e que nem sobre nós temos o verdadeiro controlo que acreditaríamos alguns séculos atrás ter sobre todo o Universo. É uma espécie de morte do narcisismo, é uma espécie de descer dos píncaros de um lugar que nunca existiu.

150 anos após o nascimento de Sigmund Freud, a ideia que temos de nós próprios e o Ocidente enquanto colectividade, é radicalmente diferente. No século XX a arte: o cinema (Bergman, Woody Allen, Hitchcock,…), a pintura (Dali,…), a literatura, a música, os movimentos políticos e os estranhos movimentos do coração incorporam a linguagem de Freud. No quotidiano mais vulgar Freud está presente; até nos desequilíbrios do vizinho a nossa linguagem incorpora a linguagem de Freud – pode ser psicótico ou depressivo, seja lá o que essas expressões queiram dizer elas já fazem parte da linguagem quotidiana. Gostamos de ser complexos, de ter aquele mundo interior que é só nosso e que mais ninguém imagina, gostaríamos que o nosso inconsciente esquecesse partes do nosso passado, mas não foi passado nenhum, é uma parte do presente, gostamos da forma como Freud prestou atenção às coisas mais pequenas e quotidianas mostrando-nos que as coisas mais triviais da vida afinal não são assim tão insignificantes como pensávamos e por vezes são as mais importantes, … Poder-me-á ajudar a compreender porque não gosto de leitão sem nunca o ter provado ou porque às vezes a raiva, por incrível que pareça, parece “saber” bem ou mesmo a razão porque estou a escrever este artigo.

Aquilo que sou e que somos seria extraordinariamente diferente sem Freud. É essa a homenagem que lhe devemos. Viena, Berlim, Paris, Roma, Madrid, Londres, Nova Iork... multiplicam-se em actos, exposições, livros, conferências que possam recordar alguém que nos ajudou a dar mais uns passos em frente.

Eu vou voltar a abrir a “Psicopatologia da vida quotidiana”...

Mãe

A minha mãe.

quinta-feira, maio 04, 2006

As coisas pequenas


Há lugares tão perto

...tão especiais

...paraísos para a alma.
Não consigo dar-vos a perceber o som de fundo destas imagens. Mas, imaginem toda a paisagem sem ruído algum (incrivelmente não se ouve um ruído que seja), apenas a natureza e a alma. Aqui consegue-se "falar" com a nossa alma, estabelecer um diálogo interior tão apaixonante como se de repente, tivessemos a conhecer alguém que nos foi sempre desconhecido.
Há lugares tão perto de nós aos quais nunca prestamos atenção. Também há pessoas tão perto de nós às quais nunca olhamos.
As coisas pequenas e mais próximas são, sem dúvida, as melhores da vida. Elas fazem e são a essência.
As coisas pequenas
(Pedro Ayres Magalhães)
Coisas pequenas são
coisas pequenas
são tudo o que eu te quero dar
e estas palavras são
coisas pequenas
que dizem que eu te quero amar.
Amar, amar, amar
só vale a pena
se tu quiseres confirmar
que um grande amor não é
coisa pequena
que nada é maior que amar.
E a hora
que te espreita
é só tua.
Decerto, nao será
só a que resta;
a horaque esperei a vida toda,
é esta.
E a hora
que te espreita
é derradeira.
Decerto já bateu
à tua porta.
A hora
que esperaste a vida inteira,
é agora
"Aquele que é fiel nas coisas pequenas, será também fiel nas coisas grandes. E quem é injusto nas coisas pequenas, sê-lo-á também nas grandes" (Lc 16, 10).
O lugar: Vale Manso, Barragem Castelo do Bode, Martinchel, Abrantes.

terça-feira, abril 25, 2006

Um Comment que se tornou Post

Na visita que fiz a um dos blogs anexos, escrevi um comentário a um post relativo ao 25 de Abril. Depois de publicado, achei que fazia sentido (também) neste espaço.
(Desafio aos milhares de leitores de todo o Mundo do Rupturas - que eu sei que existem: se o 25 de Abril pouco vos diz façam as vossas apostas sobre qual o blog de onde advém o comentário.)
Transcrito na íntegra:
"
O 25 de Abril é para mim uma angústia.
Tive nas comemorações do 25 de Abril.
Sinto que perco o tempo, ou que o tempo se perde.
O sistema continua todo lá. Eu sou um filho daquela Revolução. O 25 de Abril foi um primeiro passo numa caminhada que ainda não foi iniciada. Falta na nossa sociedade a Revolução dentro das cabeças de todos. Somos, ainda um país numa deriva identitária ideológica. Há quem não faça a mínima ideia do que é a Democracia, porque ela simplesmente parece não existir dentro do corpo social português. Há quem viva como se o tempo não tivesse avançado nos últimos 40 anos...
Por diversas razões, tenho uma paixão enorme pela política. Cada vez que me aproximo, por consciência vejo-me obrigado a afastar no mesmo instante. Enquanto as pessoas forem as mesmas de sempre, enquanto no fundo, o sistema for de Estado Novo, de compadrio, de interesses selvagens, teremos sempre mais do mesmo: a angustiante necessidade de uma Revolução.Continuamos com uma Constituição por cumprir e que necessita de ser revista à luz da proximidade dos nossos políticos às pessoas ( a mim, a ti a nós), continuamos com projectos de interesse de influências corruptivas, continuamos com fundos comunitários vergonhosamente gastos, com uma justiça arrepiante, a educação paralizada... sempre um "mais do mesmo" extramamente cansativo...
Continua um Portugal à procura de uma identidade. Hoje não conseguimos ser europeus, nem ibéricos, nem atlânticos... somos um misto de tudo e nada no mesmo instante, porque as nossas escolas não transmitem os valores culturais europeus, da fundação do pensamento europeu; porque continuamos de costas voltadas à Espanha e ao iberismo (por consequência ao Mundo); porque as nossas relações com o Atlântico perderam-se para um turismo de multidão de praia de carácter selvagem, etc..
(...)
É esta a nossa Democracia? Não é a minha.
Este comentário angustiante já vai longo, bem sei. Espero que não o interpretem como uma ideia de retorno ao passado, mas antes de voltar as costas e de definitivamente olhar em frente para o futuro - um futuro que pode ser melhor para todos nós se nos soubermos educar, existir como portugueses, europeus e cidadãos do mundo e depois educar as nossas crianças com os valores e a ética das nossas raízes - a europeia.Tive um professor que foi um marco gigantesco na educação que hoje tenho e da qual me orgulho. Aprendi em todos os minutos com ele. No auge da construção rodoviária em Portugal na segunda metade dos anos '90, ele um dia disse na aula que "De que serve a construção das autos estradas, se temos caminhos pedrestes nas nossas cabeças?" - Prof. Santos Costa - onde quer que esteja um abraço do tamanho do mundo.
Bj Rui
Abril 25, 2006 7:48 PM
"

1

Eu vi aquele concerto contigo. Não eramos só nós, não senhor! Mas, era eu, tu e a música que vinha lá do palco que entrava por ali a dentro, assim como tu entravas... Lembras do calor que lá fazia? Como eu lembro... E, ironicamente da tempestade que se fazia sentir na rua? Numa das músicas houve um olhar. Eu entrei e tu entraste... Dei comigo lá dentro e senti a tua admiração inocente por te encontrares dentro de mim. Naquele instante, não estavamos em lado nenhum, a não ser numa ilha - naquela ilha (lembras da nossa ilha? tu, chamavas-lhe oásis...). Eu vía o mar, sentia o vento soprar-nos, as vagas e o arrepio da tua pele em mim... senti o teu corpo num arrepio de calor.
A música continuava ligeira e intensa.
Os encores sucediam-se.

Amanhã só recordarás a tempestade.

sábado, abril 22, 2006

Sonhos

Não sou seguidista de ninguém. Nunca fui seguidista do que quer que fosse, homem ou escola. Também não sou um homem de um vasto conhecimento. Interessou-me sempre mais, dentro do que se considera ser a razão e o conhecimento humanos, perceber a dada escala o funcionamento de certas coisas. Saber do que falo, quando falo de algo, e saber a escala, os limites que se impõem. E quando falo do que não sei, fazê-lo com a consciência disso mesmo, fazê-lo com a incerteza que todos temos àcerca de tudo, fazê-lo sem dar o passo maior do que a perna, evitando o disparate.
Se o consigo ou não, isso é outra história. As mais das vezes, sei que o não consigo.
Ora o princípio de que parto, que alguns dirão determinista - eu sem saber se o é ou não, que inscrições em catálogos foi coisa que nunca me preocupou - é que tudo evolui de acordo com um mecanismo bem determinado mas indeterminável pela mente humana.Basicamente - não haverá acasos. Não haverá acasos, não haverá sorte, não haverá vontade, não haverá livre arbítrio.Somos todos e tudo o que nos envolve, fruto das circunstâncias, internas e externas. Se é que o interno e o externo são de fácil distinção.No actual estado das coisas, bem ou mal, pouco importa, supomos, os que acreditam na ciência, que somos um somatório de partículas elementares. Somos nós e tudo o que nos rodeia. Matéria e energia, assim o dizemos. Matéria e energia, tanto quanto as diferenciamos e voltamos a confundir.
O importante para mim é que, partindo desse princípio, apenas sou o resultante de qualquer coisa que desconheço. Ao estar a escrever estas linhas, não sou eu, é o conjunto de matéria e energia que tem a minha forma. É uma ordem dada algures no tempo remoto que se complicou e assim resultou. Um passo no caos, um passo na ordem, um passo no tempo, um passo seja no que for. Nada mais do que isso.Se não fosse ateu, encaixaria nos divinos desígnios toda a sorte de ordem das coisas. Não o sendo, não sei em que a encaixar. Não teria crença onde a encaixar.
Mas partindo deste princípio, de cada vez que me dá a ilusão para julgar que existe de facto uma vontade própria, um livre arbítrio qualquer que seja, caio no mundo do sonho, que é onde de facto vivo.É que tem que ser forte a ilusão de que mandamos nas coisas, decidimos a nossa vida, seguimos por aqui e não por ali. Para que nos deitemos a pensar na primeira pessoa. Sujeito-me assim ao mundo do sonho, como todos os outros.Mas continuo convencido (e posso eu convencer-me de alguma coisa?) da mesma ilusão, dentro dela, como nos sonhos.Como nos sonhos - e é aqui que cabem - em que por vezes, saltamos de um sonho para o outro, julgando saber que o primeiro é sonho e o segundo o não é.
Supondo que é de níveis de compreensão das coisas ou de fé numa crença de que a compreensão é por ali e não por acolá, que se trata, então suponhamos pois que os sonhos são uma boa comparação.Quando se salta de sonho em sonho, sonhando que um é realmente um sonho e o outro o não é, podemos dizer que descemos ou subimos de nível, como se quiser.Aqui, neste argumentário absurdo, passo ao nível seguinte, o qual é, encarando as coisas tal como o mundo de Alice dita que eu as veja, uma combinação de seres vivos e matéria desprovida de vida. E de energia. Ora aqui convenço-me, iludo-me com o seguinte:A vida, nas suas mais diversas formas, parece ter um único fito, o de sobreviver. Seja lá a vida o que for. Cada um dos seres dela animados mais não faz do que abrir caminho a esse destino. Sobrevivemos, reproduzimo-nos, cuidamos das crias, uns mais do que outros.No mundo de Alice, chamamos amor, chamamos paixão à pulsão da sobrevivência da espécie que conduz à reprodução.Chamamos outros nomes a outras pulsões, mas todas elas concorrem para o mesmo fim.
Por fim, já em outro nível, mais baixinho, sempre no mundo das ilusões, continuo a espantar-me com os crentes na razão. Com os que tanto clamam por ela, sem rever os seus cálculos. Que tanto a exigem e dela fazem tábua-rasa. Que tanto criticam e não se olham ao espelho. Que tanta coerência pedem sem saberem o que é e em que quadro vigora, logo não a tendo em conta. Que dividem a política no mais reles dos Sporting - Benfica, em que os da cor são sempre bons e os outros sempre maus.Que não são capazes de extrair nem sequer as mais próximas consequências do seu argumentário. Fosse ele passado à prática.Por mim, reitero os meus votos de que o mundo jamais seja feito de acordo com os meus desejos.
E volto a sonhar…