terça-feira, agosto 30, 2005

Friedrich Nietzsche

Eu teria 16 anos quando comecei a ler Nietzsche. Fi-lo, à época, não pelo simples desejo de aprofundar conhecimentos, mas pela irreverência própria da idade. É óbvio que comecei pelo “Anti Cristo”. Eu não fazia a mínima ideia do que Nietzsche pretendia com o “Anti Cristo”, mas o título, na altura, era suficientemente louco, controverso e chocante para ter de ser lido. Quando comecei a sua leitura, fiquei decepcionado. Eu esperava encontrar argumentos que chocassem. Naquelas páginas eu esperava “ver” um Bosh. Procurava, tensões, um choque cultural, uma razia ao status quo. Mas não... na época só o título foi ao encontro do que eu, surrealmente, tinha imaginado. Por teimosia ou por outra razão qualquer, li o livro na totalidade.
Hoje, à distância dos anos passados, não posso dizer o porquê, mas a obra fascinou-me por completo. Depois de lê-la tinha sofrido um abalo. Importa referir que a li juntamente com outro livro de crítica que não recordo o título, mas que desconstruiu duas coisas: o surrealismo das minhas expectativas e a interpretação do mesmo. Depois desse acontecimento, fui lendo a restante obra de Nietzsche. Não posso dizer que sou um seguidor ou o que seja. Sou apenas mais um pouco.
A obra de Nietzsche teve uma importância enorme em mim. Abriu os meus horizontes, alimentou a minha curiosidade e colocou-me perto da mudança. De lá para cá percebi que há sempre um outro lado da mesma coisa, tantos quantos os olhos humanos. E que é preciso acreditar no Homem. Ficaram muitas coisas.
105 anos depois da morte de Nietzsche.
105 anos depois, tantas coisas mudaram, mas tantas ficaram, em urgência, por mudar, talvez o mais importante.
Juntamente com Marx e Freud, Nietzsche marcou uma profunda ruptura na cultura ocidental. Criticou a racionalidade e a sua filosofia deu importância ao Homem, ao seu estado de ser, à sua vida instintiva – tudo aquilo que tinha sido recalcado. Defendeu a diversidade de vontades e consciências individuais.
Mais de 100 anos depois…
Nietzsche foi, em mim, o rastilho para a mudança e a insatisfação. Depois de Nietzsche veio todo um novo mundo.
Friedrich Nietzsche 15 de Outubro 1844 – 25 de Agosto de 1900

quinta-feira, agosto 18, 2005

...e há momentos como este... (Pablo Neruda)

... e há momentos como este...

Pablo Neruda
Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran voladoy
parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi almaemerges de las cosas,
llena del alma mía.Mariposa de sueño,
te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos,
y mi voz no te alcanza:déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio claro como una lámpara,
simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.

Some rules were made to be broken

De tanto se querer controlar o que é incontrolável, criou-se pelo tempo, um conjunto de códigos visíveis e invisíveis de normas de conduta e regras... Nem me parece necessário desenhar aqui o que tal condicionamento criou e cria em nós. As nossas atitudes, comportamentos não são o que deveriam de ser em tantos momentos. Somos, na maioria dos dias, um computador bem comportado, que reage apenas ao que é e quando é solicitado segundo o protocolo. Não, isso é não é cidadania...
As consequências? Parece-me que o Mundo nunca viveu tamanha confusão de sentidos. O Mundo já viveu eras de brutalidade surreais e eras negras de vivência indignas do ser humano. Mas, hoje o Mundo vive na confusão. Não imagino o que desencadeará, mas parece-me que a situação está... perigosa(!) em todos os sentidos. Um destes dias direi o que penso da confusão. A confusão é um dos estados mais perigosos, quando se trata do ser (ou ser-se indivíduo e sociedade). O período de confusão é de absoluta latência...
Querer ser-se é tão simplesmente ser segundo a norma.
Aproximamo-nos de uma data significativa. 105 anos após a morte de Friedrich Nietzsche. Será a 25 de Agosto. Quando falo de normas, regras, códigos e que parece importante reconstruí-los, Nietzsche já teve a sua palavra... A ver. Entretanto, o texto que aqui deixo surgiu deste excerto que não sei bem onde e quando o ouvi, mas aqui fica "Some rules were made just to be broken". Não acham?

sexta-feira, agosto 12, 2005

Cidadania II

Volto ao tema da cidadania, porque parece-me uma das principais vias de contacto entre o Homem e o Mundo. Pela forma como se aborda o tema, falar de cidadania não é tão fácil como poderia sempre parecer numa primeira impressão. Importa lembrar que se assim não fosse, o ser-se cidadão seria comum a todos.
O cidadão é uma abstracção, um princípio de funcionamento político, fundado sobre a igual dignidade de todos os homens, ao mesmo tempo que é um ideal. Bergson definia-o como "um esforço no sentido inverso da natureza".
Talvez se explique (eu continuo teimosamente a achar que não) a falta de conhecimento dos cidadãos que não vivem a cidadania. Exemplos? Não será, por certo, necessário enumerá-los...
E, não se espere que as instituições, organizações, vivam cidadania... mas, sim que criem as condições para que os cidadãos a possam exercer.
...

quarta-feira, agosto 10, 2005

Cidadania

A lógica da cidadania, numa sociedade democrática moderna, é esta ser a fonte do vínculo social. A sociedade moderna define-se por um projecto de inclusão de todos.
A cidadania funda-se sobre a ideia de que , para além das diferenças e das desigualdades, todos os homens são iguais em dignidade e devem ser tratados, jurídica e politicamente, de maneira igual.
No entanto, não se pode ignorar que a sociedade moderna está aberta a todos aqueles que são susceptíveis de participar na vida política e quererem tornar-se cidadãos.
Depois, temos aqueles que são os excluídos. Por todas as razões e mais alguma, seria bom que todos soubessem a importância de comunidade e de grupo. Os problemas gerados por essa ignorância são vastos e vão desde a sociedade enquanto funcionamento global até ao simples trabalho em grupo dentro de uma organização.

O Princípio

Costuma haver, pelo menos, uma razão para se dar início a algo. O caso deste blog não é excepção.
A razão fundamental é o tempo.
Porque é preciso tempo para exprimir novas possibilidades de se ser. É necessário uma nova via, uma nova forma de ser e estar entre o determinismo que nos recusa a capacidade criativa e imaginativa e o cepticismo do universo aleatório, estranho à razão. É necessário perceber que a ideia de certeza, que nos regulou e regula, terminou. É necessário abandonar este pessimismo criado pela ciência da certeza.
Pretende-se dar, neste espaço, um lugar ao valor, à escolha. Um lugar a novos pensamentos, a novos caminhos de se ser.
Convocam-se todos a este lugar de opinião.