domingo, junho 25, 2006

...e mais The Stone Roses...

... a chuva lá vai, lentamente, passando... vão ficando as nuvens.


The Stone Roses

I wanna be adored

I don't have to sell my soul
he's already in me
I don't need to sell my soul
he's already in me
I wanna be adored
I wanna be adored

I don't have to sell my soul
he's already in me
I don't need to sell my soul
he's already in me
I wanna be adored
I wanna be adored

Adored

I wanna be adored
You adore me
You adore me
You adore me

I wanna
I wanna
I wanna be adored

I wanna
I wanna
I wanna be adored

I wanna
I wanna
I wanna be adored

I wanna
I wanna
I gotta be adored
I wanna be adored

domingo, junho 18, 2006

...chuva e céus cinzentos

E, enquanto a chuva resolve continuar Junho fora, relembro sons de outros tempos (que tempos!)...
Ena, ena(!) 'tou nostálgico.... chuva e céus cinzentos... e Stone Roses..



The Stone Roses.

Going Down

Dawn sings in the garden
Phone sings in the hall
This boy's dead from two day's life
Resurrected by the call
Penny here we've got to come
So come on round to me
There's so much penny lying here
To touch, taste and tease
Ring a ding ding ding
I'm going down
I'm coming round
Penny's place her crummy room
Her dansette crackles to Jimi's tune
I don't care I taste Ambre Solaire
Her neck her thighs her lips her hair
Ring a ding ding ding I'm going down
I'm coming around

All thoughts of sleep desert me
There is no time
Thirty minutes brings me round to her number nine

Yeah she looks like a painting
Jackson Pollock's Number Five
Come into the forest and taste the trees
The sun starts shining and I'm hard to please
Ring a ding ding ding I'm going down
I'm coming around

All thoughts of sleep desert me
There is no time
Thirty minutes brings me round to her number nine

To look down on the clouds
You don't need to fly
I've never flown in a plane
I'll live until I die

segunda-feira, junho 12, 2006

Já quase ninguém é ao longe, já quase em ninguém se vive o desejo ou a credibilidade de um mundo outro, muitas vezes viver deixou de ser vivível. Mas continuará sempre a haver lugares e momentos de resistência em que o desejo de reinveste, lugares e momentos de relação com a alteridade em que nos aproximamos daquilo que desconhecíamos e que, de repente, descobrimos como se desde sempre nos tivesse pertencido. O Amor continua a ser um desses momentos, o Amor é ainda um segredo no deserto, uma possibilidade, sempre em aberto, da alteridade se cumprir, da singularidade se iluminar e resistir à velocidade com que o mundo se inebria e igualiza. É que quando se ama tem-se a impressão de Renascer, se bem que não se soubesse que se estava morto.
AMOR: GRANDES CERTEZAS, MUITAS INCERTEZAS

Por: Terezinha A. Marcon Constante e Viviane Borges Goulart

Ferreira (l999), em seu dicionário, assim registra: “O amor é um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem; ou de alguma coisa”. Este é um significado, mas esse termo “amor” tem sido usado em sentidos tão diferentes, que nenhum conceito consegue abrangê-lo, e cada tentativa de explicá-lo sempre exclui outras.
De acordo com Pereira (l987), relativamente ao amor, “o esforço de elucidar o tema parece dar, como resultado, apenas a percepção de sua complexidade”. Pensadores, filósofos, psiquiatras e estudiosos já tentaram desvendar esse mistério, que provoca sérias mudanças no comportamento humano, mas logo notaram a diversidade intrínseca do amor e jamais conseguiram estabelecer um conceito, menos ainda uma definição.
Segundo Rollo May (l987), distinguem-se, na cultura ocidental, quatro formas de amor: “Sexo, às vezes chamado de luxúria ou libido (ou, pelos gregos antigos, epytymia); Eros, impulso de procriação e criação; Philia ou amizade, amor fraterno; Ágape ou caritas, o amor devotado ao bem dos semelhantes, essência filosófica do cristianismo em sua doutrina original. Num conjunto de entrevistas objectivando conceitos de amor, para psicóloga Maria Tereza, “o amor é um sentimento que envolve sensações de prazer e bem-estar e que ocorre quando existe um senso de identidade entre pessoas com identidades bem definidas e diferenciadas”. Para ela, o amor não se limita a preencher carências, mas significa uma relação de complementaridade e enriquecimento mútuo. O amor representa a essência da vida, nele se encontra um sentido para viver cada dia.
Ainda, a partir das entrevistas com pessoas de faixas etárias e níveis sociais diferentes, identifiquei outros conceitos importantes. Para uma estudante de jornalismo, l7 anos, “o amor é a união de todos os bons sentimentos. Envolve muitos mecanismos humanos (físicos, químicos, psicológicos), e torna-se realmente difícil defini-lo. Porém, arrisco-me a dizer que amar consiste em estar num inconstante estado de graça, numa perturbação interior involuntária. Compreende uma relação de bem-querer, cujo enigma nos é mostrado em cada gesto, intimidado, no entanto, por qualquer manifestação expressiva. No amor ocultam-se os verdadeiros mistérios da vida.
Para Cleuza, 35 anos, deficiente visual, o amor está nas sensações e na natureza: “Escuto e sinto o vento, o barulho da folha que cai, sinto o cheiro do verde. Respiro e sinto calor, às vezes ouço a chuva tocando a terra. Ao ouvir e sentir, caminho para a vida que não vejo, buscando conhecer o que é amor”. Para a professora Maria da Glória, 39 anos, “o amor é a aceitação do próximo”. E para Santana, 63 anos, mãe de l2 filhos, “o amor é para sempre, é uma fonte viva de fé, que fortifica e impulsiona a vida”.
Entrevistando crianças e adolescentes de uma escola pública, percebi que o amor ainda se revela puro e inocente, desejando o bem do próximo, reconhecendo a figura materna como o amor mais profundo e verdadeiro. E remetendo-me, agora, a Platão, aí identifico o amor como desejo de união com o belo, um processo de ascensão espiritual que progride rumo a um estado de contemplação do cosmos, de comunhão com o Ideal, de que se constituem exemplos o amor de Dante por Beatriz e de Petrarca por Laura. Situados entre as fronteiras do humano e do eterno, o amor e a esperança de felicidade, para Dante e Petrarca, ameaçam esvaziar-se com a morte de Beatriz e de Laura. Porém, Dante, em seu itinerário das trevas para a luz, coloca Beatriz na eternidade paradisíaca, porque acredita que ela tenha atingido o mais alto grau de pureza, passando a ser a ligação do humano com o divino. Beatriz, não a mulher, mas a essência, torna-se, para Dante, a representação de que o eterno se concebe, de que o reino de Deus se faz a partir do reino do homem e que isso acontecerá por intermédio da amada. Beatriz é quem o guia no céu, simbolizando o conhecimento dos mistérios divinos. Ela conduz Dante até a morada do Criador e, lá, por um instante, ele desfruta da suprema visão de Deus, visão tão doce que palavras humanas não saberiam expressá-la. A ideia de tempo precário, para Dante, encerra-se na entrada do Paraíso, onde mora o Amor absoluto.
Para Petrarca, o passado é alimento indispensável ao presente. Amou Laura platonicamente a vida inteira, sem jamais declarar-se, e a ela dedicou seus melhores poemas. Com a morte de Laura, o eterno ficou cristalizado no tempo, ou seja, no passado. Sua memória, sempre renovada pela saudade e lembrança de Laura, o consome. No passado, onde ficou a amada, está o suporte para sua existência: E só de nela pensar consigo paz. Petrarca amou Laura, em vida, por 2l anos,
De preso Amor vinte e um anos ardendo,
sem esquecer sua beleza primeira

Ele a via com os olhos da alma, imortalizando-a em esperança e desespero:
E assim de uma só clara fonte viva
Vêm-me o doce e o amargo, que me alimentam.

A ausência da amada fá-lo pensar na própria morte:
Assim face aos cruéis golpes da morte
fujo não célere demais
O amor em Dante e Petrarca transcende o plano terrestre e chega à abstracção total, que a voz de Camões também tenta alcançar, como um dizer imponderável, porque imponderável é o Amor.
Analisar a poesia lírico-amorosa de Camões, é partir de reflexões sobre o sentimento que aflige os corações humanos. Sua poesia desvenda um “eu” que, guiado pela razão e pela emoção, experimenta os mais íntimos pensamentos e desejos, a insatisfação amorosa, a angústia do homem. O poeta não descreve o amor apenas como um sentimento impulsionado por desejos, mas que vem da alma. Na relação com a natureza, busca a “Cousa amada”, a alma ligada à natureza, no pranto amoroso:
Co’a água que cai
Daquela espessura,
Outra se mistura
Que dos olhos sai.
Toda junta vai
Regar brancas flores;
Onde há outros olhos
Que matam de amores.
Celestes Jardins: As flores, estrelas;
Horteloas delas
São uns serafins.
A presença da natureza torna-se sentimentos, angústia em busca do amor:
Sinto o cheiro do verde, as flores caindo,
Os pingos da chuva, o vento.
Respiro quase sufocado,
Caminhando para conhecer o que é amor.

São versos que fazem retornar a Cleuza, 35 anos, deficiente visual, que procura conhecer o amor através do cheiro, do vento. Para muitos poetas, a natureza estabelece uma relação essencial com a alma, em suas emoções mais profundas.
Na poesia de Camões, a insatisfação humana é representada na constante angústia de conceber o amor, na luta íntima entre o real experimentado e o ideal buscado, comunhão plena, a transformar, não os que se amam numa só carne, mas, mais que isso, numa só alma.
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar:
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada...
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si, somente, pode descansar,
Pois com ele tal alma está aliada.
Mas esta linda e pura semidéia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia,
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples, busca a forma.
É um processo de assujeitamento tão radical, que mesmo o que é contraditório nega a polaridade, rompe com o conceito de dor:
Amor é fogo que arde sem se ver:
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

A negação da polaridade quer dizer a vitória do sentimento, do coração que consegue elevar-se ao encontro da Razão, o Amor por ela vencido, não para ser aniquilado, mas sim para chegar ao inteligível, ao cósmico, ao Ideal, elevado a uma condição maior, sem comparativos:
Sempre a Razão vencida foi de Amor
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis amor ser vencido da Razão
Ora que caso pode haver maior.

Assim, no lirismo de Camões, o amor é visto como ideia e como manifestação de carnalidade. Camões não descreve uma mulher ideal, mas um ideal de mulher, um desejo que se supera, uma carnalidade que é sábia ao vencer-se pela contemplação, não de uma formosura ideal, mas de um ideal de formosura:
Porém como resisto
Contra um tão atrevido e vão desejo?
Faço-me forte nessa vista pura.
Armando-me da vossa formosura...

Uma outra vez é oportuno retornar às entrevistas. Para a estudante de Jornalismo, “o amor envolve muitos mecanismos físicos, psicológicos, químicos que causam uma perturbação interior”. Camões soube descrever toda essa “perturbação interior”. O amor como objecto do desejo, na lírica de Camões, é composto de sentimentos contraditórios que se tornam mistério e causa de inconformismo, para chegar ao amor como um inconstante “estado de graça”, mobilizador de profundas mudanças de estados de alma:
Mudam-se os tempos, mudam as vontades
Muda-se o ser, muda-se a confiança,
Todo mundo é composto de mudanças,
Tomando sempre novas qualidades.

Camões esforça-se para encontrar uma essência das coisas, fruto de vivências, procura representar a experiência do homem, não como um sentimento individual, mas “Amor” que perturba, angustia, desespera, a razão de ser de um homem, de uma sensibilidade guiada pela esperança, na busca incessante da realização amorosa.
Como Petrarca amou Laura, e Dante a Beatriz, também Camões expressou o “Amor” elevado a sentimento universal, dividido entre o mundo sensível e o inteligível, um sentimento imponderável, um sofrer que mata, e, ao mesmo tempo, uma esperança que alivia. O “poeta do amor”, em seus poemas, fala da dor do homem, do descontentamento e da esperança. Em Camões a dor se aprimora, reconstruindo, pelo Amor, a harmonia dos corações humanos, na luta constante entre o ser e o que deve ser, mundo em desconcerto:
Quem pode ser no mundo tão quieto
Ou quem terá tão livre pensamento
Ao ver e notar do mundo o desconcerto?