A poesia de Pedro Ayres Magalhães recorda a poesia trovadoresca. Evoca os seus temas preferidos, o Espírito e o Amor. As suas obras são retratos de momentos fugazes, de emoções, feitas de sonhos e paisagens, esperanças e saudades.
Nos seus poemas, o músico e poeta, expressa o amor à cultura portuguesa, com palavras impregnadas de saudade, nostalgia e suavidade. Comprometido com essas emoções, Pedro Ayres, romântico e sentimentalista, escreve os seus versos mergulhado na própria alma, em apelos e súplicas numa eterna espera.
Haja o que houver foi composto em l997, integrando o álbum “O paraíso” de Madredeus.
Haja o que houver
(Pedro Ayres Magalhães)
Haja o que houver
eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti
Volta no vento
ó meu amor
Volta depressa
por favor.
Há quanto tempo
já esqueci
porque fiquei
longe de ti.
Cada momento
é pior.
Volta no vento
por favor.
Eu sei, eu sei
quem és para mim.
Haja o que houver,
espero por ti.
Neste poema, a espera incessante está presente no refrão, um recurso típico da poesia popular, das cantigas de amor e de amigo, como expressão do desgosto de amar e de ser abandonado, de momentos de dores trazidos pela ausência.
Haja o que houver fala do amor em ausência, numa distância física. A morte da pessoa amada trouxe a amargura, o apelo, a esperança: Volta depressa... Volta no vento...
Uma outra compreensão do poema coloca a pessoa amada numa distância emocional, diferente da distância física, pois, quando um deixou de amar, está insensível, apesar de ambos estarem presentes fisicamente.
Este poema coloca o amor como sentimento mais próximo da alma do que dos sentidos, que não arrasta, nem à morte e nem à desesperança. Evoca traços trovadorescos, ainda que tenha sido escrito na actualidade, e o sentimento autenticamente português – a saudade.
Constituído por versos livres, sem grandes preocupações com a métrica, este é um poema composto por vinte versos, numa linguagem onde os verbos merecem atenção. Conjugados no presente, pretérito e futuro, constroem uma imprecisão temporal.
A insistência na metáfora, Volta no vento, clama por um retorno veloz, que se iguala a um vento uivante. É um clamor reiterado em outros versos, que dá a ideia de espera incansável.
Fascina-me a simplicidade com que se transmite tamanho sentido.
Haja o que houver,
espero por ti.
Para ler e/ou ouvir.